quarta-feira, maio 30, 2007

Estação de Barca d `Alva (o que resta)



Esta é uma imagem triste. Sou um apaixonado pelos comboios e encontrar estações abandonadas e vandalizadas deixa-me desolado. Para mais quando se tratam de estações que, outrora, viviam do corropio de pessoas e mercadorias e que acabaram por elas, por si só, representarem as vilas, cidades ou aldeias que as rodeiam. É o caso de Barca d`Alva, à beira do Douro, encostado a Espanha e na linha imaginária entre a Beira Alta e Trás-os-Montes. Quantos chefes de estação já não terão passado dias e noites de tormenta naquelas salinhas geladas. Quantos bilhetes não terão sido vendidos, quantas despedidas não terão sido seladas com lágrimas, quantos viajantes não embarcaram rumo à Régua ou ao Porto, à procura de uma vida melhor. Quantas mensagens foram transmitidas através dos fios serra acima, serra abaixo, por vezes para dar a notícia da morte de um filho amado no Ultramar. Quantos amores e desamores assistiram as paredes, os azulejos, o cimento do chão, a madeira dos telheiros, o ferro dos carris, o azul do rio. Quantos trabalhadores terão morrido a arrebentar com montes e arribas por esse país fora, só para colocar uns carris que pudessem levar alguma qualidade de vida aos locais mais inóspitos. O país está pejado de 'Barcas d`Alva', abandonadas, tristes, maltratadas, devoradas pela ganância política e empresarial. É pena, é muita pena. Uma estação recuperada representa uma vila recuperada. Agarra a população jovem, atrai turismo. E Barca d`Alva merece isso, as suas gentes merecem mas, acima de tudo, a memória dos que por lá deram o litro merece. Talvez um dia...